Flávia Gaeta: “O advogado do futuro precisa equilibrar técnica, comportamento e cultura”
Luciano Teixeira – São Paulo
O mercado jurídico está em constante transformação, e o papel do advogado já não é mais o mesmo de décadas atrás. Em um cenário de avanços tecnológicos, mudanças culturais e busca por maior humanização nas relações profissionais, o profissional precisa ir além do domínio técnico. Ele deve desenvolver habilidades comportamentais, como comunicação assertiva e inteligência emocional, e ampliar seu repertório cultural para lidar com as novas demandas do setor.
Com mais de 15 anos de experiência no universo jurídico, Flávia Gaeta é um exemplo de como a advocacia pode se reinventar para atender às demandas de um mercado em constante transformação. Doutora em Direito Tributário pela PUC/SP, ela combina sua atuação como sócia do FH Advogados, onde resolve casos complexos, com sua dedicação à educação por meio da Lousa, uma plataforma que promove a transformação por meio do conhecimento.
Na entrevista a seguir, a advogada compartilha suas perspectivas sobre essas mudanças e fala sobre sobre como os profissionais do direito podem se preparar para os desafios e oportunidades que estão por vir. Flávia destaca também a importância de sair da zona de conforto, equilibrar tradição e inovação, e cultivar competências que vão além do técnico. Confira a conversa completa a seguir!
Luciano Teixeira: Flávia, como você enxerga as mudanças na profissão jurídica e o que está transformando o papel do advogado no cenário atual?
Flávia Gaeta: Eu acredito que não é o direito que está mudando, mas sim as pessoas. Existe um movimento social e cultural em que as pessoas estão buscando mais bem-estar, felicidade e significado em suas carreiras. Isso está humanizando o papel do profissional. Tradicionalmente, fomos treinados para atuar dentro de caixas muito rígidas, mas o mundo atual exige que exploremos novas formas de pensar e trabalhar.
Luciano Teixeira: O modelo tradicional do advogado, com jornadas longas e intensas, ainda predomina?
Flávia Gaeta: Em muitos aspectos, sim. O modelo atual de trabalho ainda carrega características do século passado, como a ideia de que devemos ser extremamente produtivos dentro de um formato quase industrial. Isso inibe o pensamento crítico e a criatividade. No entanto, vemos uma transformação. Cada vez mais, os profissionais querem se conectar com suas habilidades humanas e desenvolver competências como comunicação, inteligência emocional e gestão de tempo, que são fundamentais nesse contexto de inovações tecnológicas e desafios econômicos.
Luciano Teixeira: Você mencionou a necessidade de humanização. Como isso se reflete no comportamento do advogado moderno?
Flávia Gaeta: O profissional de hoje precisa entender que ele não é só técnico; ele é também comportamento e cultura. Deve explorar o que faz fora do trabalho, como hobbies e pausas criativas, porque essas experiências enriquecem sua visão de mundo. Vivemos em um universo de escolhas, e a forma como organizamos nosso tempo e valorizamos momentos de desconexão influencia diretamente na nossa performance e criatividade.
Luciano Teixeira: Quais são os pilares que definem o profissional de direito mais preparado para o futuro?
Flávia Gaeta: Eu dividiria em três pilares principais:
- Técnico: O profissional precisa continuar se aprimorando em sua área, com aprendizado constante.
- Comportamental: Aqui entram comunicação, inteligência emocional, trabalho em equipe e gestão de tempo.
- Cultural: Ele deve ampliar seus repertórios e se conectar com experiências que vão além do trabalho, valorizando sua individualidade e interesses pessoais.
Luciano Teixeira: Como desenvolver essas competências na prática?
Flávia Gaeta: Tudo começa com perguntas simples: “Como eu me comporto em situações difíceis? Eu comunico bem? Sei lidar com momentos de pressão?” É essencial observar o próprio comportamento, não apenas no trabalho, mas também na vida pessoal. Profissionais que desenvolvem rituais para desconexão e valorizam o equilíbrio entre trabalho e vida pessoal têm mais chances de alcançar uma performance consistente e sustentável.
Luciano Teixeira: A inteligência artificial (IA) está ganhando cada vez mais espaço no mercado jurídico. Como o advogado deve se preparar para trabalhar com essas ferramentas?
Flávia Gaeta: A IA é uma ferramenta poderosa, mas é importante lembrar que ela não substitui o papel humano, especialmente em áreas como análise crítica, empatia e tomada de decisão estratégica. O advogado precisa se familiarizar com essas tecnologias para potencializar seu trabalho, entendendo como utilizá-las para otimizar processos e agregar valor ao cliente. Isso envolve não só aprender a operar as ferramentas, mas também desenvolver um pensamento crítico sobre quando e como usá-las de maneira ética e eficaz.
Luciano Teixeira: Como o ambiente de trabalho está mudando para refletir essas novas demandas?
Flávia Gaeta: Muitos escritórios e empresas estão repensando suas estruturas e culturas organizacionais. A ideia de jornadas inflexíveis e trabalho excessivo está sendo questionada, e vemos uma valorização maior do equilíbrio entre vida pessoal e profissional. Isso não significa menos comprometimento, mas um novo entendimento de produtividade, onde pausas, flexibilidade e bem-estar são fundamentais para alcançar resultados sustentáveis.
Luciano Teixeira: Qual é o papel da liderança nesse novo cenário?
Flávia Gaeta: A liderança tem um papel central em promover essa transformação. Líderes precisam ser exemplos de equilíbrio, empatia e inovação. Eles devem criar ambientes seguros onde os profissionais possam expressar suas ideias, experimentar novas abordagens e crescer tanto pessoal quanto profissionalmente. O líder do futuro é aquele que inspira pelo exemplo, incentivando sua equipe a explorar todo o seu potencial.
Luciano Teixeira: Você acredita que estamos resgatando a importância de momentos de pausa e reflexão?
Flávia Gaeta: Com certeza. É fundamental valorizar os momentos de “não fazer nada” como uma forma de estimular a criatividade. Pausas criativas não são perda de tempo; são oportunidades para encontrar novas ideias e desenvolver soluções inovadoras. Precisamos nos desconectar do “piloto automático” do trabalho e explorar outras formas de enriquecer nossas vidas e carreiras.
Luciano Teixeira: Como você vê o futuro da profissão jurídica nos próximos 10 anos?
Flávia Gaeta: Eu vejo um futuro mais dinâmico, colaborativo e integrado com a tecnologia. O advogado do futuro será um profissional multidisciplinar, com uma forte base técnica, mas também com habilidades humanas bem desenvolvidas. A profissão jurídica vai continuar evoluindo para atender às demandas de um mundo cada vez mais complexo e interconectado. Essa evolução exigirá não apenas adaptação, mas também coragem para questionar e reinventar o papel do advogado na sociedade.
Luciano Teixeira: Para finalizar, qual seria sua principal dica para os advogados que buscam se destacar no futuro?
Flávia Gaeta: Seja curioso e desafiador. O profissional do futuro é aquele que está disposto a sair da zona de conforto, seja no trabalho ou na vida pessoal. Ele deve buscar o autodesenvolvimento, explorar novas habilidades e contribuir de maneira significativa para o mundo. Não existe uma fórmula única, mas o essencial é enxergar-se como um ser humano completo, capaz de equilibrar técnica, comportamento e cultura. Minha mensagem é: olhe para dentro. Encontre suas paixões, suas curiosidades e aquilo que realmente te motiva. O profissional do futuro não é aquele que segue fórmulas prontas, mas aquele que entende quem é, o que quer e como pode impactar positivamente o mundo ao seu redor. E lembre-se: o direito não é apenas um campo de regras e técnicas, mas uma ferramenta poderosa para transformar vidas e criar um futuro mais justo e equilibrado.