“Transformamos dados em estratégia”: Como o jurídico da Embraer inova com IA

“Transformamos dados em estratégia”: Como o jurídico da Embraer inova com IA
"Com inteligência artificial, conseguimos organizar grandes volumes de dados de forma estratégica, permitindo a automatização de decisões e acordos jurídicos e reduzir nossos custos em cerca de 30%"/Divulgação
Publicado em 07/11/2024 às 7:47

Luciano Teixeira – São Paulo

A Embraer, maior fabricante brasileira de aeronaves e destaque global na aviação, tem uma história de inovação. Com mais de 9.000 aeronaves entregues e presença em todos os continentes, a empresa é um pilar estratégico na economia brasileira e exemplo de alta tecnologia. Com operações em mais de 60 países, a companhia é uma das maiores exportadoras de bens de alto valor agregado do Brasil.

Seu impacto no mercado global é estratégico no desenvolvimento de soluções de mobilidade e segurança aérea, contribuindo para o avanço tecnológico e a geração de empregos qualificados, principalmente aqui no Brasil.

No coração desse sucesso está a importância de um departamento jurídico, que hoje é liderado por Thalita Grandis, gerente jurídica e especialista em trabalho e emprego, contencioso , ambiental, corporativo e direito internacional.

Em entrevista a LexLegal, Thalita explica como o jurídico da companhia usa tecnologias preditivas para economizar recursos, melhorar acordos judiciais e superar desafios de contratos complexos em mercados internacionais. Veja a seguir.

Luciano Teixeira: Como a Embraer atingiu maturidade tecnológica e integrou essa evolução no jurídico?

Thalita Grandis: A Embraer incentiva o uso de inteligência artificial em todas as áreas, inclusive no jurídico. Percebemos que tínhamos muitos dados dispersos e sem organização. Começamos a categorizar internamente e, em 2020, buscamos uma parceria com uma startup para desenvolver um algoritmo preditivo que nos ajudasse em acordos judiciais. Isso permitiu focar em questões estratégicas, reduzindo custos e transformando a visão da área jurídica na empresa.

Luciano Teixeira: Como foi a experiência do jurídico da Embraer com a integração de tecnologias preditivas?

Thalita Grandis: A experiência foi um marco para nossa área! Com inteligência artificial, conseguimos organizar grandes volumes de dados de forma estratégica, permitindo a automatização de decisões e acordos jurídicos. Isso otimizou o trabalho da equipe, que passou a focar em questões mais complexas. Essa mudança trouxe economia significativa: conseguimos reduzir nossos custos em cerca de 30%. O investimento em tecnologia para categorizar e automatizar processos complexos rapidamente se pagou e trouxe eficiência operacional. Além disso, transformou nossa interação com o mercado e o Judiciário. Com dados estruturados, conseguimos apresentar propostas mais claras e embasadas para juízes e advogados, promovendo acordos mais eficientes. O uso de ferramentas analíticas preditivas mudou nossa posição nos processos e ajudou a mostrar nossa seriedade.

Luciano Teixeira: Quais são os principais desafios e características necessárias para liderar o jurídico de uma empresa como a Embraer?

Thalita Grandis: Flexibilidade, visão estratégica e uma mente aberta para inovação são fundamentais. Entender o negócio profundamente e engajar a equipe com novas tecnologias também é essencial para entregar resultados impactantes. Os maiores desafios são: estar sempre atualizados com inovações, provar o valor estratégico do jurídico na empresa e engajar o time com tecnologia e inovação. Nossa missão é oferecer suporte jurídico que equilibre agilidade com segurança, gerindo contratos complexos e demandas globais. Temos um papel estratégico em proteger e impulsionar a empresa.

Luciano Teixeira: Como o jurídico está incentivando a inovação interna?

Thalita Grandis: Incentivamos nossa equipe a buscar conhecimento, participar de eventos de tecnologia e compartilhar novas ideias. Temos 15 profissionais, incluindo advogados e paralegais, divididos por áreas. Eles têm autonomia para trazer projetos e inovações, promovendo uma integração entre gerações e perspectivas.

Luciano Teixeira: Quais são as principais demandas hoje em dia?

Thalita Grandis: Nossas maiores demandas são contencioso, privacidade de dados e contratos de fornecedores globais. O desafio é adaptar contratos às legislações internacionais, garantindo agilidade e proteção.

Luciano Teixeira: A diversidade é importante no seu time?

Thalita Grandis: A diversidade no time é um ponto forte. Temos profissionais com diferentes idades, experiências e perspectivas. Isso cria um ambiente rico em ideias e soluções inovadoras, possibilitando uma abordagem mais completa e colaborativa nas questões jurídicas e estratégicas.

Luciano Teixeira: O que é preciso para ser um advogado in-house?

Thalita Grandis: Precisamos ser mais do que especialistas jurídicos; devemos ser parceiros estratégicos para o negócio. O domínio da tecnologia é indispensável, assim como o entendimento dos desafios e objetivos da empresa. Inovar e buscar eficiência são essenciais.

Luciano Teixeira: Quais são os principais desafios em contratos globais?

Thalita Grandis: Lidar com contencioso global exige atenção à legislação de diferentes jurisdições e compreensão cultural, além de um trabalho minucioso de mitigação de riscos. A complexidade dos casos, principalmente com fornecedores internacionais e questões de propriedade intelectual, traz desafios constantes que nos motivam a manter uma equipe altamente capacitada e sempre atualizada.

Luciano Teixeira: A negociação entre Boeing e Embraer, avaliada em US$ 5,2 bilhões, prometia criar uma joint-venture dominada pela Boeing, com 80% de participação, integrando a aviação comercial da Embraer. No entanto, a crise econômica global e dificuldades no setor de aviação levaram ao rompimento do acordo em 2020. A Boeing alegou que a Embraer não cumpriu as condições necessárias, enquanto a Embraer afirmou que a rescisão foi indevida, com acusações de falsas alegações. O fim abrupto gerou uma disputa legal, com a Embraer buscando reparações pelos danos sofridos. Como foi enfrentar a turbulência de um acordo com a Boeing que depois virou rompimento?

Thalita Grandis: Foi desafiador. Foi preciso separar e depois reunificar a empresa, o que demandou grande esforço organizacional e jurídico. Também enfrentamos uma complexa arbitragem internacional. Aprendi muito sobre negociação e gestão de crises. Aprendemos sobre resiliência, separação estrutural e reintegração. A experiência nos mostrou o quanto é crucial flexibilidade e preparação para desafios inesperados no cenário corporativo global. Depois da separação, tivemos que reunificar processos e equipes, o que demandou grande esforço e resiliência. Além disso, a arbitragem internacional foi complexa e ensinou muito sobre gerenciamento de disputas globais.

Luciano Teixeira: Você acredita que a cultura de inovação do jurídico da Embraer pode servir como modelo para outras empresas?

Thalita Grandis: Com certeza. A integração de tecnologia, como inteligência artificial e dados preditivos, associada ao engajamento do time, mostra que é possível transformar a atuação do jurídico em algo estratégico e inovador. Essa cultura pode ser adaptada e replicada em outras empresas, demonstrando o impacto positivo da inovação na eficiência e no valor agregado ao negócio.

Luciano Teixeira: Alguma recomendação para novos profissionais que desejam atuar em jurídico interno?

Thalita Grandis: Ser generalista, entender o negócio profundamente e se adaptar às novas tecnologias. O conhecimento técnico é importante, mas a visão holística e a capacidade de trabalhar em equipe são diferenciais cruciais.

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