Rodrigo Hermida, da Thomson Reuters: “Advogados que adotarem IA terão uma vantagem competitiva decisiva”
Luciano Teixeira – São Paulo
A Thomson Reuters tem se consolidado como uma das principais fornecedoras de soluções tecnológicas para o setor jurídico, especialmente em um momento em que a inteligência artificial começa a transformar a maneira como advogados trabalham em todo o mundo. Na América Latina, a empresa tem buscado adaptar suas ferramentas às particularidades do mercado regional, onde a adoção de tecnologia ainda encontra desafios, mas também apresenta grandes oportunidades para melhorar a eficiência em escritórios e departamentos jurídicos.
Para falar sobre estas questões, conversamos com o argentino Rodrigo Hermida, vice-presidente do segmento de Legal Professionals para América Latina na Thomson Reuters. Ele ingressou na companhia em 2017 como Chief Financial Officer para a América do Sul e foi nomeado para liderar o negócio em 2018. Hermida é contador público nacional e possui especialização em inovação empresarial. Durante os últimos 20 anos, ocupou os cargos de controller, diretor financeiro e CFO na Argentina e no exterior, trabalhando para empresas como Mercedes-Benz e Zurich Insurance Company. Desde 2019, Rodrigo também é membro do Conselho de Administração da CanCham Argentina.
Hermida explica que a realidade latino-americana tem desafios específicos. Muitos processos ainda não estão automatizados e a estrutura jurídica regional não é tão padronizada quanto em outros mercados, como o norte-americano e o europeu. No entanto, advogados da região demonstram interesse em não ficarem para trás nessa transformação digital.
Em um contexto de rápidas e fortes transformações, uma das principais questões é até que ponto a IA conseguirá realmente impactar as práticas jurídicas na América Latina, onde o setor ainda caminha para a digitalização em larga escala. Rodrigo Hermida responde a estas questões na entrevista a seguir.
Luciano Teixeira: Rodrigo, gostaria de saber um pouco mais sobre o impacto da inteligência artificial, especialmente a generativa, no mercado jurídico da América Latina. Como você vê o cenário no Brasil em comparação com outros países da região?
Rodrigo Hermida: Primeiramente, Luciano, obrigado pelo convite. A inteligência artificial chegou para desafiar várias profissões, e talvez a mais impactada seja a jurídica, que tradicionalmente não lida tanto com tecnologia. A pesquisa mais recente sobre o futuro das profissões, conduzida no último ano, mostrou que a maioria dos profissionais acredita que a IA terá um impacto significativo em suas atividades. Muitos já estão experimentando a tecnologia, compreendendo onde ela pode complementar e até mesmo facilitar o trabalho jurídico.
Luciano Teixeira: E quais são as particularidades da América Latina em relação a esse avanço da IA?
Rodrigo Hermida: A América Latina ainda está um pouco atrás na adoção tecnológica em comparação com Europa e Estados Unidos. Muitos dos nossos processos ainda não são tão automatizados ou padronizados. O que vemos é que, inicialmente, a IA está sendo utilizada para realizar tarefas manuais e repetitivas de baixo valor agregado. Isso libera o advogado para se concentrar em atividades mais estratégicas, proporcionando mais tempo para funções de alto valor, como análise e criação de estratégias jurídicas.
Luciano Teixeira: Você mencionou um ganho de tempo com a IA. Pode dar um exemplo?
Rodrigo Hermida: Claro. Observamos que, com a implementação da inteligência artificial generativa, os profissionais estão ganhando cerca de cinco horas por semana. Em alguns anos, esse ganho pode chegar a até 12 horas semanais, o que representa um impacto significativo no faturamento dos escritórios. A questão é: como vamos usar esse tempo? A IA pode ajudar no equilíbrio entre vida pessoal e trabalho, mas também abre oportunidades para o desenvolvimento de novas áreas e serviços dentro dos escritórios.
Luciano Teixeira: Existe alguma resistência entre os advogados latino-americanos quanto à adoção da IA?
Rodrigo Hermida: Curiosamente, não vejo uma resistência. Há, na verdade, um grande interesse em não ficar de fora dessa transformação. O que vejo é uma necessidade de adaptação cultural para incorporar essas ferramentas de forma eficaz. Por exemplo, os advogados precisam aprender a usar a IA de maneira correta para otimizar os resultados. Esse é um passo essencial para que eles possam aproveitar todos os benefícios que a tecnologia oferece.
Luciano Teixeira: Em comparação com outros países da América Latina, o que diferencia o mercado jurídico brasileiro?
Rodrigo Hermida: O Brasil se destaca pelo volume de processos. É um número impressionante, algo que realmente coloca uma pressão adicional para a incorporação de tecnologia. Enquanto em outros países o serviço jurídico ainda pode ser mais personalizado, aqui a escala e o volume exigem uma abordagem mais automatizada. Isso reforça a necessidade de ferramentas tecnológicas para garantir que os prazos sejam cumpridos e as demandas sejam atendidas com eficiência.
Luciano Teixeira: Olhando para o futuro, o que você acredita que acontecerá no mercado jurídico nos próximos cinco anos?
Rodrigo Hermida: É sempre difícil prever, mas acredito que alguns elementos fundamentais da profissão, como o julgamento crítico e a relação de confiança com o cliente, se tornarão ainda mais importantes. Ao mesmo tempo, cada advogado terá um “assistente” de inteligência artificial ao seu lado, potencializando suas capacidades e agilizando tarefas. A IA não substituirá o advogado, mas será uma aliada essencial.
Luciano Teixeira: Uma questão que muitos advogados levantam é a integração de dados. Como a IA pode ajudar nisso?
Rodrigo Hermida: A integração de dados é realmente crucial, especialmente em um sistema tão fragmentado como o brasileiro. A IA pode conectar jurisprudência, legislação e dados de forma centralizada, facilitando o acesso à informação e melhorando a gestão dos processos. Isso representa um grande valor agregado para o setor jurídico e para a eficiência dos escritórios.
Luciano Teixeira: Quais são as novidades que a Thomson Reuters traz para o mercado jurídico da América Latina?
Rodrigo Hermida: A Thomson Reuters oferece uma ampla gama de produtos: o Legal One, uma solução de gestão do contencioso, o HighQ, solução global de gestão consultiva, livros e até inteligência artificial generativa, que permitem realizar buscas, redigir contratos, organizar linhas do tempo e buscar cláusulas específicas. Essas ferramentas ajudam a liberar tempo dos advogados para que eles se concentrem nas atividades que realmente importam.