Projeto Incluir Direito: Um caminho para a diversidade no mercado jurídico

Projeto Incluir Direito: Um caminho para a diversidade no mercado jurídico
O projeto quer aumentar o número de advogados negros nos grandes escritórios e proporcionar a esses profissionais as ferramentas e condições necessárias para crescerem em suas carreiras/Pixabay
Publicado em 20/11/2024 às 18:51

Luciano Teixeira – São Paulo

Criado em 2016 pelo Centro de Estudos das Sociedades de Advogados (Cesa), o Projeto Incluir Direito surgiu como uma resposta à baixa representatividade de advogados negros nas grandes sociedades de advocacia do Brasil. Naquele ano, um levantamento da Fundação Instituto de Administração (FIA) revelou que negros representavam menos de 1% dos estagiários e advogados nos escritórios associados ao Cesa. A constatação deu origem a uma iniciativa, cujo objetivo é promover a inclusão, equidade e diversidade no mercado jurídico brasileiro.

O projeto quer aumentar o número de advogados negros nos grandes escritórios e proporcionar a esses profissionais as ferramentas e condições necessárias para crescerem em suas carreiras. Com uma abordagem educacional e prática, o Incluir Direito vem mudando vidas e inspirando mudanças estruturais na advocacia.

“Transformar realidades, não apenas estatísticas”

Carlos José Santos da Silva, conhecido como Cajé, presidente do conselho diretor do Cesa e idealizador do projeto, explica que a ideia principal nunca foi apenas aumentar números. “O Projeto Incluir Direito foi criado com o objetivo de mudar essa realidade, oferecendo a esses jovens uma preparação que os colocasse em pé de igualdade nos processos seletivos. Não é um projeto assistencial, mas educacional”, afirma.

Carlos José Santos da Silva, conhecido como Cajé, presidente do conselho diretor do Cesa e idealizador do projeto/Cesa

Carlos José Santos da Silva, o Cajé, é presidente do conselho diretor do Cesa e idealizador do projeto/Cesa

Desde sua primeira turma em 2017, o Incluir Direito demonstrou resultados concretos: 100% dos participantes foram contratados pelos escritórios apoiadores. Hoje, cerca de 11% dos advogados nas sociedades do Cesa se autodeclaram negros, uma evolução significativa em relação aos números de 2016.

Além disso, o projeto expandiu sua atuação para universidades como Mackenzie, USP, PUC-Rio, UFMG e UFRGS. “A inclusão de jovens negros nos escritórios requer trabalho em várias frentes. Não basta contratá-los, é necessário criar um ambiente acolhedor e investir no desenvolvimento profissional”, ressalta Cajé.

Histórias de superação e mudança

O impacto do Incluir Direito se reflete em histórias pessoais e mudanças culturais dentro das firmas. “Os escritórios eram monocromáticos. Contratávamos, promovíamos e desenvolvíamos iguais. Com o projeto, houve uma transformação. Hoje, há mais diversidade, o que reflete em um ambiente mais criativo e inovador”, observa Cajé.

Robson de Oliveira, advogado do Demarest e coordenador geral do projeto, destaca o impacto transformador do programa: “O Incluir Direito mudou não só a vida dos participantes, mas também a minha. Ver jovens negros ocupando grandes escritórios é um sinal de que a inclusão gera resultados melhores.”

Um dos exemplos é Victor Santa Cruz, ex-aluno do projeto e hoje advogado no Machado Meyer. “Participar do Incluir Direito foi essencial para meu crescimento profissional e pessoal. O projeto abriu portas e mostrou um mundo de oportunidades que eu não sabia que existiam.”

Desafios e próximos passos

Apesar dos avanços, Cajé admite que ainda há muito a ser feito. “Meu sonho é que, em alguns anos, o Projeto Incluir Direito não seja mais necessário, porque a diversidade já será naturalizada. Enquanto isso, seguimos expandindo o programa para outros estados e universidades e buscando parceiros no setor privado”, afirma.

Para superar as barreiras estruturais, o projeto oferece suporte aos participantes. Cursos de inglês, preparatórios para a OAB, bolsas de pós-graduação e mentorias são algumas das iniciativas implementadas para nivelar as condições de competição. Além disso, as sociedades de advogados também passaram por um processo de conscientização, reconhecendo a necessidade de ambientes mais inclusivos.

Cajé destaca que a transformação não acontece apenas nos participantes, mas em todos os envolvidos. “Esse projeto transformou a vida dos jovens e de todos nós. Ele nos mostrou que a inclusão não é apenas uma responsabilidade social, mas um ganho para toda a sociedade.”

Um futuro mais inclusivo

Com mais de 400 participantes formados, o Incluir Direito é um exemplo de como ações afirmativas podem mudar o cenário de desigualdade racial. Mais do que números, o projeto tem construído histórias de sucesso e pavimentado o caminho para uma advocacia mais justa e representativa.

Emaliza Moraes, advogada do BMA e ex-aluna do programa, resume o impacto do projeto: “Sou muito grata por essa jornada que abriu portas e transformou minha carreira.”

O caminho ainda é longo, mas a inclusão de advogados negros e de projetos de incentivo à diversidade nas principais bancas do país mostra que a transformação é possível – com esforços contínuos, comprometimento e um olhar para a igualdade. Com isso, o mercado jurídico brasileiro pode se tornar mais plural, inovador e inclusivo.

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