M&A no agronegócio: uma nova colheita de oportunidades

M&A no agronegócio: uma nova colheita de oportunidades
Para o setor agrícola, que enfrenta desafios que vão desde as mudanças climáticas até o rigor das regulamentações ambientais, crescer significa buscar escala, eficiência e inovação/CNA
Publicado em 05/12/2024 às 8:53

Mariano Soares*

O agronegócio brasileiro, conhecido mundialmente por alimentar bilhões de pessoas, tem revelado um lado menos visível, mas igualmente crucial para sua sobrevivência e crescimento: os movimentos estratégicos de fusões, incorporações e aquisições (M&A – Mergers & Acquisitions). Esses processos, muitas vezes tão complexos quanto as cadeias produtivas que movem o setor, vêm redefinindo os limites de atuação das empresas ligadas ao agribusiness e abrindo portas para uma atuação global mais robusta.

Não é de hoje que o agronegócio brasileiro atrai olhares atentos de investidores internacionais. Afinal, somos o celeiro do mundo, e a potência de nossos campos ecoa nos maiores mercados globais, seja por volume comercializado ou por área mercadológica que os produtos brasileiros transitam. Recentemente, casos como a aquisição da empresa espanhola El Abuelo pela Agrícola Famosa evidenciam uma busca incessante por competitividade e expansão mercado-geográfica. 

A lógica é clara: quem não cresce, definha. Para o setor agrícola, que enfrenta desafios que vão desde as mudanças climáticas até o rigor das regulamentações ambientais, crescer significa buscar escala, eficiência e inovação. E as operações de M&A são, muitas vezes, o fertilizante ideal para essas necessidades.

Em 2024, estudos de uma Big4 de serviços financeiros, apontam que o setor registrou um aumento expressivo nas transações de M&A. O agronegócio não apenas liderou as movimentações em termos de volume, mas também mostrou um apetite inédito por inovação, com aquisições de startups de agrotecnologia (agtechs) e empresas de bioinsumos sustentáveis, além da escalada exponencial no mercado de créditos de carbono.

Por que as empresas apostam em fusões e aquisições?

É simples: no agronegócio atual, a competição é voraz, e a sobrevivência requer músculos estratégicos para manter-se competitivo em aspectos relacionados ao binário preço x produtividade. Destacamos três razões que têm levado empresas a adotar M&A como parte de sua estratégia:

Expansão geográfica: transações internacionais, como a assessorada recentemente pela Evoinc no setor de grãos, conectam empresas brasileiras a mercados globais, fortalecendo a exportação e diluindo riscos associados ao mercado interno.

Inovação tecnológica: incorporar startups e empresas inovadoras garante competitividade, especialmente em um mundo onde práticas sustentáveis e soluções disruptivas não são mais diferenciais, mas requisitos.

Consolidação de mercado: o agro brasileiro é fragmentado. Movimentos de fusões permitem que empresas ampliem suas operações, aumentem sua escala e ganhem força na disputa com players internacionais.

Porém, nem tudo são flores no campo das fusões e aquisições. Como qualquer plantio, há desafios que podem prejudicar a colheita esperada. A integração entre duas empresas nem sempre é fácil. Alinhar culturas organizacionais e processos distintos exige competência técnica, estratégia e liderança multifocal.

Quando conduzidas corretamente, os processos de M&A no agro podem gerar significativos benefícios econômicos e tecnológicos. A combinação de recursos e expertise oferece a oportunidade de modernizar processos, incorporar tecnologias avançadas e aumentar a eficiência operacional, como a adoção de automação e a utilização de inteligência artificial.

Esses avanços não apenas reduzem custos, mas também ampliam a competitividade no mercado, diminuem os riscos de erros e fraudes aumentando o nível de compliance abrindo portas para novos horizontes. O sucesso, no entanto, exige uma integração estratégica que maximize sinergias e transforme desafios em motores de crescimento sustentável.

O agronegócio é um terreno fértil, mas também cercado por regulações ambientais, trabalhistas e tributárias. A falha em cumprir essas exigências pode comprometer todo o negócio. Além disso, a volatilidade de commoditiesafetam diretamente os valuations e projeções, tornando desta forma o mercado tendencioso ao conservadorismo financeiro.

Participar de um processo de M&A é, em muitos casos, tão desafiador quanto plantar e colher em uma terra nova. É fundamental o apoio, combinando conhecimento técnico, experiência setorial e uma abordagem prática, para transformar desafios em oportunidades e garantir que a negociação seja segura e eficaz.

*Mariano Soares é auditor contábil e especialista em finanças e processos de M&A e sócio da Evoinc.

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