Legaltechs: Como startups transformaram o Direito e estão remodelando o mercado jurídico
Priscila Spadinger*
Você já parou para pensar como a tecnologia está impactando o mundo do Direito?
Confesso que, como advogada investidora construtora de startups legaltechs (empresas de base tecnológica com soluções inovadoras para a área do Direito), eu mesma fico impressionada com a velocidade das mudanças no mundo diariamente.
O ano de 2024 foi decisivo para quem, como eu, acredita que inovar é essencial. De um mercado historicamente avesso às transformações, o setor jurídico deu passos incríveis rumo ao futuro. No centro de tudo isso, a Inteligência Artificial (IA) foi o grande tema.
Mesmo que nem todas as startups legaltechs onde invisto ainda tenham implementado IA em suas soluções, o impacto que todas trouxeram ao mercado foi gigante. A IA virou sinônimo de vantagem competitiva e a busca por tecnologia finalmente conquistou seu espaço nas mesas de decisão, sejam elas de escritórios, departamentos jurídicos ou mesmo nas universidades.
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Um exemplo incrível é o case da startup legaltech GRTS Digital, uma solução de gestão de relações trabalhistas e sindicais para monitoramento das negociações de instrumentos coletivos de acordo. Ela permite a revisão das mudanças e a integração com os sistemas de folha de pagamento, oferecendo a “Norma”, uma IA que ajuda o advogado ou profissional do RH da empresa a atualizar todos os contratos trabalhistas em conformidade aos acordos/convenções coletivas da área. Isso impacta sobremaneira na agilidade da busca por informações estratégicas na gestão das maiores empresas brasileiras atuais, já clientes da GRTS Digital.
A propósito, 2024 também foi o ano em que nossas startups legaltechs mais se consolidaram no mercado brasileiro e em outros países pelo mundo, como EUA e França, algo que me enche de orgulho, pois é um termômetro da maior aderência dos profissionais do Direito ao mundo da inovação e da tecnologia. Crescemos mais de 70% no valuation do nosso portfólio, ultrapassando R$ 150 milhões.
E não é só sobre dinheiro, mas sobre construir soluções que realmente ajudam advogados e profissionais do Direito a enfrentarem os desafios diários de um setor tão competitivo. O Brasil tem tudo para liderar esta tendência no uso cada vez maior de tecnologia por advogados. Vejam que dado curioso: o país tem a maior proporção de advogados por habitante no mundo! São 1,3 milhão de profissionais, ou seja, um para cada 164 pessoas, segundo a OAB federal. Isso é muito!
Para fins de comparação, nos Estados Unidos, a proporção é de um advogado para cada 253 habitantes. Com tantos advogados, as oportunidades para criar soluções tecnológicas também são gigantescas. Mas aqui entra um ponto: apesar de 45% dos advogados brasileiros usarem algum tipo de software de gestão de processos, ainda existe muito espaço para melhorar. Ferramentas mais modernas, que simplifiquem o dia a dia e aumentem a produtividade dos profissionais do Direito.
E então o que esperar de 2025? Este ano promete ser ainda mais transformador.
Percebemos a necessidade de conectar ainda mais escritórios e departamentos jurídicos às mais novas possibilidades tecnológicas e desenhamos o primeiro grande hub que fará toda essa conexão. Imagine um ecossistema onde advogados, startups e corporações trabalham juntos para reinventar o Direito.
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E tem mais: saltaremos em números quânticos as tecnologias que oferecemos ao mercado para redação de peças processuais utilizando IA como referência, sem alucinações, adequando escritórios e suas rotinas à essa nova realidade; entregaremos due diligences imobiliárias em horas após a solicitação, de qualquer terreno no Brasil; seguiremos colaborando com empresas S/A de capital fechado para que sejam tokenizadas e utilizem plataforma de tecnologia para negociação de seus ativos; oferecemos ainda mais vantagens na utilização de plataforma para entrega de governa em privacidade, IAM, controles internos, ESG robotizado e compliance de processos; dentre outras soluções incríveis em nosso portfólio Aleve.
É assim que queremos acelerar ainda mais o desenvolvimento de soluções disruptivas. Realmente acredito que a aplicação prática da inovação e da tecnologia na área do Direito tem o poder de ser um catalisador de mudanças positivas para a sociedade. Não é só sobre tecnologia por tecnologia. É sobre criar ferramentas que facilitem a vida dos profissionais do Direito e promovam um mercado mais inclusivo, ágil e conectado às demandas do mundo contemporâneo.
Se você, como eu, está nessa jornada de unir Direito e inovação, espero que continue acompanhando nossas iniciativas. E, claro, nunca deixe de acreditar que podemos reimaginar esse setor tão tradicional. O futuro do Direito é agora!
*Priscila Spadinger é advogada especializada em M&A, investidora anjo e cofounder de startups legaltechs.