Dia da Consciência Negra: Reconhecimento, inclusão e compromisso corporativo
Yasmim Bernardo Vitorio dos Santos*
O Dia da Consciência Negra, celebrado em 20 de novembro, é um momento de profunda importância no Brasil. Mais do que uma data comemorativa, é uma oportunidade de reflexão sobre as contribuições históricas, culturais e sociais do povo negro para a formação do país, bem como sobre as desigualdades que ainda persistem. O dia também marca o aniversário da morte de Zumbi dos Palmares, um forte símbolo da resistência contra a escravidão e da luta por liberdade.
Embora representem 56% da população brasileira, negros e pardos enfrentam desproporcionalidades nos indicadores sociais. Segundo o IBGE, a renda média da população negra equivale a 57% da dos trabalhadores brancos, e, consequentemente, 72% das pessoas em extrema pobreza no país são negras. No mercado de trabalho, apenas 4,7% dos cargos executivos das 500 maiores empresas são ocupados por negros, e, na educação, menos de 20% dos jovens negros entre 18 e 24 anos estão no ensino superior, contra 36% dos brancos.
Esses dados reforçam a importância de ações concretas para promover igualdade de oportunidades. O racismo é uma ferida profunda que marca também a trajetória de muitas pessoas negras no ambiente de trabalho. Suas manifestações, por vezes sutis, outras explícitas, geram um impacto devastador, refletindo-se em sentimentos de exclusão, desvalorização e estagnação profissional. Desde a ausência de oportunidades iguais até atitudes discriminatórias no dia a dia, essas experiências podem corroer a autoestima, limitar o potencial de desenvolvimento e criar barreiras invisíveis, mas poderosas, que impedem o pleno exercício de competências e talentos.
No ambiente corporativo, o racismo pode gerar um clima de isolamento, afetando diretamente a saúde emocional dos profissionais negros. A constante necessidade de provar valor e competência em um espaço que, muitas vezes, não os acolhe ou reconhece igualmente, pode levar a níveis elevados de ansiedade e esgotamento.
Portanto, celebrar o Dia da Consciência Negra no ambiente corporativo é uma chance de reafirmar compromissos com a diversidade, reconhecendo que empresas mais inclusivas são também mais inovadoras e competitivas. Estudos da McKinsey mostram que organizações com maior diversidade étnico-racial têm 35% mais chances de alcançar desempenho financeiro acima da média, destacando o impacto positivo de práticas inclusivas.
Em contrapartida, a ausência de representatividade e de políticas antirracistas bem definidas reforça ciclos de exclusão, perpetuando desigualdades históricas. Em um mundo corporativo que busca refletir os valores da sociedade, simplesmente contratar pessoas de grupos historicamente excluídos não é suficiente.
É preciso investir em programas de recrutamento voltados para a inclusão racial, com processos seletivos que busquem aumentar a representatividade de negros em todos os níveis hierárquicos. Programas de estágio e trainee específicos para a população negra têm sido uma forma eficaz de promover a inclusão e atrair novos talentos. Realizar treinamentos sobre diversidade, inclusão e combate ao racismo ajuda a sensibilizar os colaboradores e construir uma cultura organizacional mais consciente. Oficinas, palestras e discussões abertas sobre questões raciais são formas de educar e promover a empatia entre as equipes. Programas de mentoria voltados para o desenvolvimento de profissionais negros podem contribuir significativamente para o crescimento e a retenção desses talentos dentro da empresa.
A inclusão efetiva vai além da contratação, sendo necessário criar ambientes onde todos os colaboradores, independentemente de sua origem social ou educacional, se sintam apreciados e parte da organização. Cursos de capacitação, por exemplo, fortalecem a confiança e o potencial de pessoas vindas de contextos educacionais adversos, contribuindo para um ambiente corporativo mais justo e representativo. Isso significa reconhecer as disparidades nas trajetórias e investir na capacitação e desenvolvimento desses profissionais para equiparar as condições e promover oportunidades reais de crescimento.
As empresas que assumem a inclusão como valor precisam ir além das campanhas ou eventos pontuais. Datas como o Dia da Consciência Negra são momentos importantes, mas devem ser acompanhadas de práticas contínuas, como a definição de metas de representatividade, transparência nos resultados e a promoção de debates que eduquem e inspirem mudanças.
O mercado de trabalho tem um papel central na promoção de justiça social e igualdade de oportunidades. Ele pode ser uma ferramenta de transformação quando guiado por princípios que não apenas celebrem a diversidade, mas a integrem à cultura organizacional de forma estruturada. Cada ação, por menor que pareça, contribui para a construção de um ambiente mais inclusivo, representativo e inovador.
Que este 20 de novembro seja mais do que um dia de celebração. Que ele inspire empresas e pessoas a refletirem sobre seu papel em eliminar barreiras, criar oportunidades e honrar a memória de Zumbi dos Palmares ao lutar por uma sociedade verdadeiramente igualitária.
*Yasmim Bernardo Vitorio dos Santos é advogada do Serur Advogados.