Advogados 50+ também usam IA?
Gustavo Viseu*
A população está envelhecendo, mas o espírito de descoberta e aprendizado permanece vivo. Uma prova clara disso é que, de acordo com Jeff Maggioncalda, CEO da Coursera, a Geração X está mais engajada em qualificação tecnológica do que a Geração Z.
No Brasil, por exemplo, 33% dos cursos de IA generativa são consumidos por pessoas entre 44 e 64 anos. Esses dados nos levam a refletir sobre o etarismo, um preconceito ainda muito presente em diversos setores. Estereótipos como o de que profissionais mais experientes estão desatualizados, são menos inovadores ou produtivos acabam fazendo com que muitos negócios percam grandes talentos.
No mercado jurídico, vejo cada vez mais profissionais seniores desafiando essas ideias pré-concebidas. Com sua experiência, conhecimento e soft skills acumulados, estão se qualificando para a revolução tecnológica e indo além: estão liderando a transformação da advocacia em uma prática mais estratégica, eficiente e de alto valor. Esses profissionais não enxergam a IA como uma substituta, mas como uma ferramenta complementar que expande suas capacidades.
A inteligência artificial acelera pesquisas, facilita análises de dados e pode até apoiar previsões jurídicas. Porém, é a experiência acumulada ao longo dos anos que confere aos advogados seniores a habilidade de interpretar esses dados com um olhar crítico.
Há um ponto que merece destaque: profissionais mais experientes sabem que a tecnologia é útil, mas têm discernimento para questioná-la e aprofundar suas análises quando necessário, mantendo um padrão de qualidade que só a prática oferece. Esse perfil de profissional traz um diferencial importante ao mercado jurídico. Além de sua resiliência e adaptabilidade, eles acumulam um conhecimento que permite avaliar com cuidado os impactos éticos e legais do uso de IA. Essas são questões que a experiência e o tempo de atuação ajudam a ponderar, especialmente em um setor onde a tomada de decisão consciente é essencial.
Uma pesquisa da Robert Half revela que 77% das empresas brasileiras não promovem a diversidade geracional. Em tempos de inovação contínua, a adaptabilidade e a visão estratégica dos advogados seniores nos lembram da importância dessa diversidade para preparar os negócios e a advocacia para o futuro.
A integração da IA é inevitável, mas o olhar criterioso e experiente desses advogados é igualmente relevante. Enquanto a tecnologia oferece novas possibilidades, é a combinação com a visão estratégica que garante um uso responsável e eficaz, beneficiando clientes e elevando o padrão da advocacia.
*Gustavo Viseu é sócio do Viseu Advogados.