A direita e a tentação golpista
André Pereira César*
Não bastasse o atentado de 13 de novembro último, quando uma pessoa jogou bombas contra o prédio do Supremo Tribunal Federal (STF) e acabou morta, a direita mais extremada tem agora outro revés. O anunciado plano para assassinar o então presidente eleito Lula (PT), o vice Geraldo Alckmin (PSB), o ministro Alexandre de Moraes e o ex-comandante do exército general Freire Gomes, coloca em definitivo aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) nas cordas.
Apenas para relembrar, militares de alta patente foram presos pela Polícia Federal após investigações que apontaram o plano de matar os eleitos no pleito de 2022 e, com isso, manter Bolsonaro e seu grupo no poder. O caso teria inclusive a participação do general Braga Netto, à época candidato a vice na chapa bolsonarista. Um quadro sério, que precisa ser investigado a fundo.
Uma figura central em todo esse processo é o ex-ajudante de ordens presidencial Mauro Cid (sempre ele), cuja delação premiada, aparentemente, omitiu diversos fatos. Não por acaso, ele está sendo ouvido por Moraes e poderá inclusive perder benefícios adquiridos com essa delação.
Aqui, algumas observações. Em primeiro lugar, o episódio deixa claro que o risco de ruptura com a ordem democrática é real e não pode ser menosprezado. Por conta disso, espera-se que as instituições funcionem a contento, para evitar qualquer nova tentativa de golpe. Não se brinca com a democracia, a tanto custo reconquistada pela sociedade brasileira.
Além disso, fica igualmente evidente que o quadro de polarização política no país segue o mesmo. Em especial no território das redes sociais (que precisam de regulamentação, diga-se), o embate entre os grupos adversários não arrefeceu e episódios como os recentemente registrados apenas alimentam tudo isso.
Já o PL da anistia aos envolvidos no ataque de 8 de Janeiro à Praça dos Três Poderes definitivamente saiu de cena. Não há, hoje, a menor possibilidade de que o texto avance no Congresso Nacional. Mesmo que isso ocorresse, o STF certamente derrubaria a medida. Jogo jogado.
No sentido contrário, a PEC que obriga militares da ativa a passarem para a reserva caso disputem cargos eletivos, que estava parada no Senado Federal, pode ganhar novo fôlego. Ressalte-se aqui que o próprio governo federal não acreditava na possibilidade de aprovação da proposta. Novos ventos sopram.
E a situação de Bolsonaro? O ex-presidente, até pouco tempo atrás, acreditava na possibilidade de virar o jogo, retomando os direitos políticos e se recolocando na disputa sucessória de 2026. Seus aliados e apoiadores igualmente apostavam nessa hipótese, que também pode ser considerada sepultada.
Nem mesmo a vitória do republicano Donald Trump nos Estados Unidos e a força da direita mais extremada em diversos cantos do planeta mudam a realidade atual. Agora, bolsonaristas e afins deverão repensar estratégias e ações, em especial com a inclusão nas discussões do Congresso Nacional de pautas voltadas para os costumes com o intuito de se criar cortinas de fumaça.
Por fim, há opções de novas lideranças em uma centro-direita mais moderada, que respeita as regras do jogo democrático. De certo modo, as eleições municipais de outubro último (apesar das especificidades do pleito) indicaram alguns caminhos. A conferir.
*André Pereira César é cientista político.