PF: Bruno Pereira e Dom Phillips foram mortos por fiscalizarem crimes em terras indígenas

PF: Bruno Pereira e Dom Phillips foram mortos por fiscalizarem crimes em terras indígenas
A investigação policial confirmou que os assassinatos foram em decorrência das atividades fiscalizatórias promovidas por Bruno Pereira em Atalaia do Norte/AM/Gov.br
Publicado em 04/11/2024 às 11:44

Manaus/AM — A Polícia Federal concluiu na última sexta-feira (1/11) o inquérito que investigou o assassinato do indigenista brasileiro Bruno Pereira e do jornalista britânico Dom Phillips, ocorrido em 5 de junho de 2022, nas proximidades da Terra Indígena Vale do Javari, no Amazonas. O relatório final, fruto de dois anos de apuração, confirmou que os homicídios foram motivados pelas atividades de fiscalização ambiental de Bruno Pereira, que há anos atuava para proteger as terras e os direitos dos povos indígenas da região.

A investigação da PF indicia nove suspeitos, entre eles o mandante do crime, que, segundo o relatório, financiou as atividades do grupo e forneceu as munições usadas no ataque. Ele também teria organizado a ocultação dos corpos das vítimas, reforçando o grau de premeditação do duplo homicídio. Os outros envolvidos cumpriram funções específicas na execução dos assassinatos e na tentativa de encobrir o crime.

Esse episódio ganhou destaque pela brutalidade e pelo cenário de conflitos de interesse que envolve a região do Vale do Javari, uma área remota e protegida, que abriga comunidades indígenas isoladas e é constantemente ameaçada pela exploração ilegal de recursos naturais, como a pesca e a caça. Bruno Pereira, que já havia sido coordenador de proteção territorial da Fundação Nacional do Índio (Funai), era alvo de ameaças desde que se juntou à União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja) para assessorar comunidades locais na fiscalização de atividades ilegais.

A participação de Dom Phillips, que estava em campo com Bruno Pereira para documentar questões ambientais e sociais na Amazônia para o jornal britânico The Guardian, trouxe uma repercussão internacional ao caso. As mortes de Phillips e Pereira levantaram um alerta global sobre os riscos enfrentados por jornalistas e defensores de direitos humanos e ambientais na região.

Além de expor os responsáveis pelo crime, o inquérito da Polícia Federal também revelou o envolvimento de grupos de crime organizado na exploração predatória de recursos naturais na região de Atalaia do Norte, onde as atividades ilegais de caça e pesca geram lucro e ameaçam a preservação ambiental e a segurança das comunidades indígenas. A investigação aponta que essas operações ilícitas têm impactado severamente a biodiversidade local e intimidado servidores públicos e defensores ambientais.

Para enfrentar a complexidade desse cenário, a Polícia Federal informou que manterá o monitoramento das ameaças contra os moradores do Vale do Javari, além de seguir investigando denúncias de ameaças contra indígenas. Em uma tentativa de inibir futuras ações criminosas e garantir segurança, a PF vem trabalhando em conjunto com órgãos ambientais e de direitos humanos.

Os assassinatos retratam o ambiente de extrema vulnerabilidade na região amazônica e a necessidade urgente de políticas de segurança e preservação. O assassinato de Bruno Pereira e Dom Phillips continua sendo um marco para o debate sobre a proteção dos defensores ambientais e o enfrentamento ao crime organizado na Amazônia, que segue afetando a integridade dos povos indígenas e ameaçando a biodiversidade.

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