Alcolumbre, Motta e o futuro do governo Lula

Alcolumbre, Motta e o futuro do governo Lula
Ao Planalto não basta melhorar a comunicação ou simplesmente apostar em uma reforma ministerial. Será necessária muita negociação com o Congresso, agora sob nova direção/Agência Senado/Câmara dos Deputados
Publicado em 03/02/2025 às 9:56

André Pereira César – Brasília

Bola cantada, jogo devidamente jogado. As eleições para as presidências da Câmara dos Deputados e do Senado Federal foram marcadas por uma previsibilidade poucas vezes vista no Parlamento brasileiro. Também a distribuição dos demais cargos das Mesas das duas Casas confirmou, em linhas gerais, os acordos celebrados entre os partidos.

O deputado Hugo Motta (Republicanos/PB) e o senador Davi Alcolumbre (União Brasil/AP) conseguiram amplo apoio no processo de escolha dos comandos da Câmara e do Senado. Ambos, lembremos, com o aval explícito dos agora ex-presidentes Arthur Lira (PP/AL) e Rodrigo Pacheco (PSD/MG).

Sobre Motta podemos afirmar que, apesar de relativamente jovem, tem vasta experiência na Câmara. Médico, oriundo de uma tradicional família de políticos paraibanos, leva no currículo o fato de, em 2010, ter sido eleito o deputado com menor idade na história do Brasil – 21 anos. Próximo ao então todo-poderoso Eduardo Cunha, teve participação ativa no processo que culminou no impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT). Também presidiu a CPI da Petrobras, em 2015. Sinal de alerta para o Planalto?

Já Alcolumbre é um velho conhecido da cena política brasileira. Ex-presidente do Senado que retorna agora ao posto, ele comandou com mão de ferro a Comissão de Constituição e Justiça da Casa, impondo pautas por vezes contrárias aos interesses do governo Lula (PT). Sua aliança com Pacheco obteve sucesso e o retorno ao comando da Câmara Alta foi selado meses atrás. O senador, por sinal, estaria se movimentando no sentido de conseguir vagas em agências reguladoras e nos Correios. Algo deve conquistar.

Aqui entram os problemas do presidente Lula, que atravessa um momento de baixa. Com uma base parlamentar pouco sólida, ele assiste ao avanço do chamado Centrão com poucas armas à disposição para reverter o quadro. Pior, há nuvens carregadas no horizonte, entre elas a real possibilidade de novos aumentos na taxa básica de juros (Selic) pelo Banco Central e a ameaça do presidente norte-americano Donald Trump de sobretaxar produtos brasileiros.

Com esse pano de fundo, as relações entre o Planalto e o Congresso serão cruciais para o governo. As primeiras declarações dos novos presidentes das duas Casas, porém, não trazem boas notícias para Lula. Tanto Motta quanto Alcolumbre fizeram defesas enfáticas das prerrogativas do Parlamento. Ambos são abertamente favoráveis a um maior controle do Orçamento conquistado nos últimos anos via emendas parlamentares, alvo de controvérsias envolvendo o Supremo Tribunal Federal (STF), um quadro que vem estressando o Executivo federal. Continuarão nessa toada?

Um importante sinalizador do futuro dos acontecimentos será a definição dos próximos presidentes das Comissões Permanentes da Câmara e do Senado. Esperam-se embates pesados em torno do comando de alguns desses colegiados, o que pode respingar no governo.

Enfim, muita água ainda rolará, mas uma coisa é certa. Ao Planalto não basta melhorar a comunicação ou simplesmente apostar em uma reforma ministerial. Será necessária muita negociação com o Congresso, agora sob nova direção. A disputa pelo governo em 2026 já começou.

*André Pereira César é cientista político.

SÃO PAULO WEATHER
Newsletter
Cadastre seu email e receba notícias, acontecimentos e eventos em primeira mão.