Por que o Brasil se tornou o novo destino para investidores em startups?
Alexandre Turqueto*
O Brasil está se consolidando como um importante centro de inovação e empreendedorismo na América Latina, atraindo a atenção de investidores globais interessados no crescimento das startups locais. Esse ambiente propício à inovação tem sido impulsionado pelo aumento de investimentos de corporate venture capital (CVC), com um foco especial em setores de tecnologia avançada e sustentabilidade. Startups brasileiras, especialmente em áreas como inteligência artificial, bioeconomia e energias renováveis, estão chamando a atenção de grandes corporações internacionais e fundos de investimento que veem no Brasil um território fértil para o desenvolvimento de novas soluções tecnológicas e para a expansão de suas próprias estratégias de inovação.
Esse movimento tem impulsionado o ecossistema de startups do país de maneira significativa. O número de transações de CVC no Brasil cresceu substancialmente nos últimos anos, apresentando um aumento expressivo em relação ao ano anterior. Estima-se que o volume total de investimentos estrangeiros no país já tenha ultrapassado a marca de US$ 1 bilhão, enquanto o número de operações e parcerias envolvendo startups locais continua a crescer. Atualmente, o Brasil ocupa uma posição de destaque entre os mercados emergentes e aparece entre os principais destinos globais para investimentos em corporate venture capital.
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A diversidade de startups e a variedade de setores explorados por essas empresas são atrativos importantes para os investidores. O Brasil tem se destacado em setores estratégicos que oferecem soluções para problemas globais urgentes, como as mudanças climáticas e a transição energética. A bioeconomia, por exemplo, surge como um campo promissor graças à rica biodiversidade brasileira, que possibilita o desenvolvimento de tecnologias sustentáveis e produtos inovadores com baixo impacto ambiental. Outro setor em alta é o da inteligência artificial, com startups brasileiras desenvolvendo soluções avançadas para desafios em áreas como saúde, logística e segurança, além de potencializar a produtividade em diversos segmentos da indústria.
No contexto global, o corporate venture capital tem crescido rapidamente, refletindo o interesse das corporações em se posicionarem na vanguarda da inovação. Em vez de depender exclusivamente de inovação interna, muitas empresas estão optando por investir em startups que atuam em seus setores de interesse, acelerando assim o desenvolvimento de tecnologias que podem incorporar em seus próprios produtos e serviços. O mercado global de venture capital registrou um aumento expressivo, passando de US$ 55 bilhões em 2013 para cerca de US$ 250 bilhões em 2023. Esse crescimento reforça a relevância do CVC como uma ferramenta estratégica para o crescimento e diversificação das grandes empresas e representa uma oportunidade importante para o Brasil atrair capital e impulsionar seu setor de tecnologia.
Um dos aspectos mais atraentes do mercado brasileiro é o potencial de retorno sobre o investimento. Em meio a um cenário econômico dinâmico e em constante evolução, o país oferece condições para que investidores estrangeiros obtenham retorno significativo ao financiar startups com produtos inovadores e soluções que atendem às demandas locais e globais. A taxa de câmbio favorável, com o real desvalorizado em relação a moedas fortes como o dólar e o euro, também torna os investimentos no Brasil mais atrativos para estrangeiros, permitindo que aportes em moeda estrangeira tenham maior poder de compra no mercado local.
Entretanto, o setor de venture capital enfrentou desafios significativos desde meados de 2022 e ao longo de 2023. A instabilidade econômica global, aliada a fatores como a alta inflação e o aumento das taxas de juros, resultou em uma retração nos investimentos. De acordo com o relatório da KPMG, o investimento global em venture capital caiu para o nível mais baixo pelo 16º trimestre consecutivo no final de 2023, refletindo a cautela dos investidores diante das incertezas econômicas e geopolíticas.
No entanto, durante o ano de 2024 houveram sinais de recuperação. A redução da taxa básica de juros no Brasil, a Selic, tem um impacto positivo no mercado de venture capital e CVC. Taxas de juros mais baixas reduzem o custo do capital, tornando os investimentos em ativos de maior risco, como startups, mais atrativos em comparação com investimentos de renda fixa. Além disso, a diminuição dos juros facilita o acesso ao crédito, permitindo que startups obtenham financiamento com condições mais favoráveis. Essa conjuntura cria um ambiente mais propício para o crescimento e a inovação, incentivando investidores a direcionarem recursos para o setor de tecnologia e inovação no país.
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Apesar dos desafios enfrentados recentemente, o ambiente para startups no Brasil mostra-se promissor. A crescente profissionalização do setor e o interesse cada vez maior de investidores internacionais criam uma janela de oportunidade para que o país se estabeleça como um líder na área de inovação tecnológica. Esse movimento pode ajudar o Brasil a diversificar sua economia, criando empregos de alta qualificação e aumentando sua resiliência econômica. Além disso, o sucesso de startups brasileiras em atrair investimentos e desenvolver soluções inovadoras pode posicionar o país como um exemplo a ser seguido por outras economias emergentes que desejam promover um ambiente de inovação sustentável e inclusivo.
O fortalecimento das startups e a expansão do corporate venture capital no Brasil são, portanto, mais do que apenas uma tendência econômica. Esse fenômeno representa uma mudança estrutural no cenário empresarial do país, com potencial para transformar a economia brasileira e sua posição no cenário internacional.
*Alexandre Turqueto é visiting attorney no King & Spalding LLP.