Novo fundo anti-woke declara guerra à Starbucks

Novo fundo anti-woke declara guerra à Starbucks
O SPXM utiliza uma lógica semelhante, mas invertida: penalizar empresas que implementam políticas consideradas politicamente alinhadas à esquerda/Pixabay
Publicado em 06/12/2024 às 16:21

Um novo fundo de investimento chamado SPXM (S&P Meritocracia) está causando polêmica nos mercados financeiros e no meio corporativo ao adotar uma abordagem declaradamente contrária às políticas de diversidade, equidade e inclusão (DEI) promovidas por grandes empresas. Criado por apoiadores do ex-presidente dos EUA, Donald Trump, o ETF tem como objetivo excluir do índice S&P 500 empresas que implementem iniciativas consideradas “woke” – um termo usado de forma pejorativa por críticos para se referir a práticas progressistas no ambiente corporativo.

Starbucks foi escolhida como o primeiro alvo dessa estratégia, com os criadores do fundo argumentando que as políticas de DEI da empresa estão prejudicando seu desempenho financeiro e, consequentemente, o retorno aos acionistas. Essa postura desafia diretamente a crescente tendência de adoção de práticas de governança ambiental, social e corporativa (ESG) em empresas globais.

O que é o SPXM?

O fundo SPXM foi concebido como uma resposta aos ETFs de ESG, que priorizam investimentos em empresas que demonstram responsabilidade social e ambiental. De acordo com James Fishback, criador do fundo, o objetivo é promover a meritocracia como principal critério de gestão corporativa. Fishback afirma que políticas baseadas em diversidade racial, étnica e de gênero promovem “viés político” e enfraquecem a performance empresarial.

“Empresas devem contratar os melhores e mais brilhantes, independentemente de fatores sociais ou políticos. Contratar com base em diversidade étnica ou racial é uma afronta aos interesses dos acionistas e desvia o foco do que realmente importa: resultados financeiros sólidos e competitividade global”, declarou Fishback.

Starbucks na mira

A Starbucks, conhecida por suas políticas inclusivas e práticas progressistas, foi a primeira empresa escolhida pelo SPXM como alvo de sua estratégia. O fundo alega que as práticas de DEI da empresa, incluindo metas explícitas de diversidade racial e de gênero em cargos de liderança, não apenas desviam a atenção de objetivos financeiros, mas também criam divisões internas e prejudicam a produtividade.

Os gestores do fundo prometem excluir a Starbucks de seu índice e amplificar publicamente a mensagem de que suas políticas “woke” estão causando danos ao valor de mercado. A empresa, por sua vez, defendeu suas iniciativas de DEI, afirmando que elas não apenas promovem justiça social, mas também fortalecem a cultura organizacional e a conexão com seus clientes.

“Nosso compromisso com a diversidade reflete nossos valores e nossa crença de que empresas inclusivas têm melhor desempenho no longo prazo”, afirmou a Starbucks em resposta às críticas.

Uma resposta ao ESG

A criação do SPXM também reflete um movimento crescente de conservadores nos EUA contra práticas ESG, que incluem critérios ambientais, sociais e de governança nas decisões de investimento. Esses fundos, que excluem empresas que não se alinham a valores sustentáveis, como indústrias poluentes, têm sido frequentemente alvo de críticas de políticos e grupos de direita, que os acusam de colocar “ideologia” acima do lucro.

O SPXM utiliza uma lógica semelhante, mas invertida: penalizar empresas que implementam políticas consideradas politicamente alinhadas à esquerda. Esse movimento coloca em evidência a polarização crescente no mercado financeiro, com investidores buscando alinhar seus portfólios a valores políticos e ideológicos.

Impacto e críticas

Embora o SPXM tenha atraído atenção, o fundo ainda não gerencia recursos e enfrenta desafios significativos para se estabelecer como uma alternativa viável. Especialistas questionam sua viabilidade financeira e a eficácia de sua estratégia, argumentando que excluir grandes empresas como Starbucks pode limitar o desempenho do fundo no longo prazo.

Além disso, críticos apontam que a abordagem “anti-woke” do SPXM pode alimentar divisões políticas no ambiente corporativo, comprometendo a cooperação entre empresas e stakeholders em questões globais, como mudanças climáticas e desigualdade social.

A relevância do debate sobre DEI

Enquanto isso, a Starbucks e outras empresas que adotam políticas progressistas continuam a defender suas práticas. Pesquisas indicam que a diversidade nos locais de trabalho melhora a tomada de decisões, promove inovação e aumenta o engajamento dos colaboradores, fatores que impulsionam o desempenho a longo prazo.

Ainda assim, o debate sobre a relação entre iniciativas DEI e resultados financeiros está longe de ser resolvido. Para muitos, o SPXM é um reflexo da crescente politização do ambiente corporativo, onde empresas e investidores estão sendo forçados a escolher entre diferentes conjuntos de valores.

O surgimento do SPXM marca uma nova etapa na disputa ideológica que permeia os mercados financeiros e o ambiente corporativo. Enquanto alguns o veem como uma resposta legítima às práticas progressistas, outros argumentam que ele representa um retrocesso nos esforços para tornar o capitalismo mais inclusivo e responsável.

A eficácia do fundo e sua capacidade de atrair investidores ainda são incertas, mas uma coisa é clara: o debate sobre diversidade e inclusão nas empresas não desaparecerá tão cedo. Com a Starbucks como alvo inicial, o SPXM certamente continuará atraindo atenção, críticas e, possivelmente, apoio de um segmento específico do mercado.

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