Inovação ou Ilusão? Por que muitos escritórios de advocacia estão falhando miseravelmente
Paulo Silvestre de Oliveira Junior*
Apesar de todo o barulho em torno da inovação no setor jurídico, é surpreendente perceber quantos escritórios de advocacia estão desperdiçando mais do que dinheiro – estão enterrando oportunidades, esgotando recursos internos e, pior, dilapidando a confiança de seus clientes. E sabe o que é mais alarmante? Muitos líderes de escritórios nem sequer percebem que estão falhando.
A inovação virou um mantra. Eventos luxuosos, prêmios, apresentações de ferramentas tecnológicas… tudo isso cria uma narrativa de modernidade. Mas a pergunta que poucos têm coragem de enfrentar é: esses esforços realmente geram impacto sustentável, ou estamos todos apenas brincando de inovar
Nos últimos meses, estive imerso em conversas com mais de 80 escritórios ao redor do mundo. Foi uma jornada para desenvolver o Generative AI-Centric Law Firm Model, o primeiro framework global criado para orientar a adoção estratégica de IA Generativa em escritórios de advocacia. Essa experiência me permitiu mergulhar no contexto individual de cada escritório, explorando realidades distintas em diferentes países. Essa perspectiva ampliada revelou algo importante: embora os desafios variem, os erros mais comuns são universais.
Vamos encarar a realidade: grande parte dos escritórios está mais preocupado em parecer inovador do que realmente ser. Compram softwares de ponta, contratam consultores e até criam cargos como “Diretor de Inovação”. No entanto, no fim das contas, continuam operando com a mesma mentalidade de 10 ou 20 anos atrás.
Isso não é inovação. É teatro.
Quando você olha para os resultados reais, a maioria desses esforços falha miseravelmente. Por quê? Porque a inovação é tratada como um projeto paralelo, algo desconectado da operação central, das pessoas e – talvez o mais crítico – dos clientes. Ela não é parte da estratégia do escritório; é um acessório. E isso custa caro: financeiramente, estrategicamente e na credibilidade.
O que escritórios verdadeiramente inovadores entenderam (e você ainda não)
A convivência com os principais escritórios globais deixou evidente que os líderes em inovação não seguem tendências – eles criam as regras. Eles não estão apenasimplementando iniciativas; estão construindo ecossistemas onde cultura, operações e clientes estão alinhados.
Esses escritórios não tratam inovação como algo à parte, mas como uma extensão natural de sua estratégia. Esse entendimento não é por acaso; é o resultado de uma abordagem madura e intencional, ancorada em três pilares fundamentais.
1.Você inspira ou impõe?
Se a seu time encara a inovação como uma obrigação, algo imposto de cima para baixo, você já perdeu o jogo. Escritórios que lideram a transformação criam ambientes onde a experimentação é incentivada e o erro é aceito como parte do aprendizado. Eles têm líderes que não apenas “falam” sobre inovação, mas mostram, com ações, que estão comprometidos.
Agora, olhe para o seu time: as pessoas estão engajadas e motivadas, ou apenas cumprindo ordens? Você criou um ambiente que recompensa ideias e iniciativas, ou sufoca qualquer tentativa de sair da zona de conforto?
2.Sua casa está em ordem?
Aqui está a verdade que ninguém gosta de admitir: se os seus processos internos são caóticos, nenhuma inovação vai sobreviver. Escritórios que gastam mais tempo “apagando incêndios” do que otimizando suas operações simplesmente não têm espaço para a transformação.
Você sabe onde estão os gargalos no seu escritório? Seus processos permitem escalar inovações, ou cada nova iniciativa é engolida pela burocracia e pela desorganização? Sem eficiência operacional, toda inovação é apenas uma ideia bonita no papel.
3.Você sabe quem realmente importa?
Aqui vai uma provocação direta: suas inovações são para impressionar outros advogados ou para melhorar a experiência do cliente? Os escritórios mais inovadores não têm dúvidas: tudo começa e termina no cliente. Eles entendem as necessidades de seus clientes em profundidade, antecipam problemas e criam soluções que agregam valor tangível.
Você sabe dizer, com confiança, quais problemas reais suas inovações estão resolvendo para os seus clientes? Ou você está apenas apostando em tendências sem propósito claro?Se o seu escritório não consegue integrar cultura, operação e cliente em suas estratégias de inovação, a dura verdade é esta: você está perdendo tempo. E, pior, está perdendo a confiança de seus clientes – algo muito mais difícil de recuperar.
A inovação que não gera impacto tangível é mais do que ineficaz; é prejudicial. Ela desgasta seu time, consome seus recursos e coloca em risco sua posição no mercado.
Enquanto você se perde em iniciativas desconexas, seus concorrentes estão se movendo de forma estratégica. E, no ritmo que o mercado avança, o tempo para reagir está se esgotando.
Inovação de impacto não é sobre ferramentas, é sobre estratégia
Os escritórios que lideram a transformação no setor jurídico têm algo em comum: tratam a inovação como uma prioridade estratégica, não como uma obrigação ou moda passageira. Eles entendem que inovação de impacto começa com uma base sólida e se expande para resultados concretos, sustentáveis e mensuráveis.
Minha experiência com escritórios de diferentes países reforçou que, independentemente do contexto ou do tamanho, os princípios para inovar com impacto são universais. Eles exigem liderança, coragem e um compromisso real com a transformação.
Inovar não é sobre parecer moderno. Não é sobre impressionar o mercado. É sobre transformar seu escritório de dentro para fora, entregando valor real para as pessoas que mais importam – sua equipe e seus clientes.
Se você não consegue responder com clareza a perguntas como:
• Minha equipe está engajada e preparada para a transformação?
• Meus processos operacionais sustentam novas iniciativas?
• Minhas inovações estão gerando impacto para os meus clientes?
… então é hora de reavaliar suas prioridades.
Porque, no final das contas, inovação sem impacto não é inovação. É ilusão. A transformação é inevitável, mas só os estrategicamente preparados colherão os frutos. Seu escritório está pronto? Ou continuará se perdendo em discursos que não se sustentam?
A inovação não é um destino inalcançável, mas um caminho que começa com pequenos passos consistentes. O futuro é de quem escolhe construir algo realmente significativo.
*Paulo Silvestre de Oliveira Junior é especialista em desenvolvimento estratégico e inovação no setor jurídico, com mais de 14 anos de experiência em liderar projetos transformadores para departamentos jurídicos e escritórios de advocacia. Graduado em Gestão Estratégica pelo IBTA, possui especializações em Business Innovation e um MBA em Segurança da Informação pela FIAP, além de formação em Inovação Corporativa e Estratégia Digital pelo MIT. É o criador do Generative AI-Centric Law Firm Model, framework pioneiro que orienta a adoção estratégica de IA generativa por escritórios de advocacia e hoje é uma referência global. Atualmente, atua como Diretor de Inovação e Desenvolvimento no Buttini Moraes Advogados e é fundador da Absense Tecnologia e da IT Legal Experts – Innovation & Technology. Autor de “Direito em Transformação – Estratégia e Inovação para Advogados”, Paulo é reconhecido por integrar tecnologia e estratégia para impulsionar a inovação no Direito, inspirando escritórios ao redor do mundo a transformar suas operações.