Fusões e aquisições em 2025 serão muito mais seletivas
Leonardo Barém Leite*
Quem conhece bem o contexto (e o “mercado”) das “fusões e aquisições” (especialmente no Brasil) sabe que M&A “nunca morre”, mas é muito complexo e dinâmico, tendo também momentos de maior e de menor atividade. E uma das grandes perguntas do “mercado” para 2025 é justamente a expectativa de negócios – e o que se pode esperar no curto e no médio prazos.
Empresas em crise, sem estratégia de sucessão, que precisem melhorar a gestão e realizar investimentos, costumam ser “alvos possíveis” para investidores e grupos estratégicos em busca de consolidação e novos mercados (ou carteiras de clientes, licenças, produtos etc). temos que estar sempre atentos a elas.
Investidores estão sempre buscando novos e bons negócios, e o Brasil é um país que sempre “chama a atenção internacional”, em função do tamanho de nossa economia, da multiplicidade de oportunidades, dos números de nossa população, da importância regional etc., mas esses mesmos investidores são cada vez mais seletivos.
Certamente “bons negócios” ocorrerão neste ano, e acompanharemos todos eles, mas nada indica que a quantidade seja elevada.
Será um ano de “vacas magras”? Ainda não sabemos.
Bons negócios, especialmente inovadores, certamente ocorrerão ao longo deste ano, mas sem dúvidas será um ano extremamente desafiador, e muito “seletivo” em termos de quantidade de operações.
Responder a essa questão sobre o efetivo “porte, frequência e quantidade” de projetos e de operações (tanto puramente locais quanto internacionais com reflexos na nossa região) é um desafio enorme; e dificilmente alguém “acertará” por completo – ainda mais se considerarmos que muito desse tema depende de segmentos, localização, porte de projetos, situação das empresas envolvidas e assim por diante. E ‘tudo depende” não apenas do que aconteça “por aqui”, mas também da situação internacional.
“Arriscamos acreditar” que neste ano o mercado (em média e de forma geral) talvez “caminhe um pouco de lado” (ou seja, tende a ter pouco movimento, sem muitas surpresas, e pouco deve crescer- além de ser muito seletivo); mas que mesmo assim teremos um movimento “razoável”.
Embora vejamos desafios, “apostamos” em “bons negócios”, especialmente em empresas e segmentos inovadores, e em crescimento, que consigam apresentar boas perspectivas de ganhos aos parceiros/adquirentes, e que sejam relativamente seguros, com “alvos” que tenham boa governança corporativa, forte “compliance”, imagem e reputação elevadas – e indicação de que com melhor gestão os resultados e investimentos estratégicos sejam animadores.
Dificilmente teremos um ano (especialmente no Brasil) de uma grande quantidade de projetos, especialmente grandes, pois ainda que o nossos País continue oferecendo muitas oportunidades, apresenta também muitos desafios; o que tende a gerar cautela por parte de investidores. Ousamos mencionar que não teremos um “grande boom”, tanto em M&A quanto no mercado de capitais, mas que teremos bons negócios.
O cenário geopolítico é bastante preocupante, uma vez que seguimos com várias guerras e conflitos importantes em andamento, e pontos de altíssima tensão política e social ao redor do globo, e desafios ambientais extremos, sem contar instabilidade política – por exemplo na Europa, com vários “chefes de governo” sendo substituídos.
Essa situação global gera oportunidades (pois deve crescer a busca por novos fornecedores e opções para investimentos), mas também muita incerteza; o que faz com que investidores se tornem cada vez mais cautelosos e seletivos.
De outro lado, a economia mundial (de forma geral) não atravessa um bom momento, com vários países apresentando indicadores e dados menos animadores do que no passado recente, sem contar o aumento do custo de diversos produtos e serviços, muita volatilidade cambial, inflação e tantos outros aspectos que no seu agregado afetam muito o mercado. Esse quadro tende a “apertar” grandes projetos, tornar os investidores mais seletivos e cautelosos, provavelmente buscando países mais “atrativos e promissores”, mas igualmente ávidos por boas oportunidades.
No caso especificamente brasileiro, questões como descontrole de contas públicas e situação fiscal, aumento drástico das taxas de juros (em função justamente o referido problema fiscal, e da inflação), dificuldade financeira das “famílias” (em função da inflação) com uma certa redução de consumo em diversos segmentos, alta da moeda norte-americana, restrição no varejo, falta de recursos em diversos setores, e “tantos outros fatores”, tendem a afugentar investimentos (mas, repetimos, boas oportunidades serão sempre atrativas).
De forma geral os “ativos brasileiros” estão muito baratos (especialmente em moeda forte) o que tende a atrair “olhares” de quem busca oportunidades, e temos empreendedores e empresas muito criativos e inovadores (notadamente em “start ups”), mas o risco de se investir no País voltou a ser considerável, e em grande medida, boa parte do mercado parece preferir (neste momento) mercados menos voláteis. Será um ponto importantíssimo a acompanharmos.
Aprofundando um pouco, acreditamos que certamente teremos negócios e movimento tanto em M&A quanto no mercado de capitais e de dívida (apesar do altíssimo custo do dinheiro, especialmente em moeda forte), mas tudo indica que tenhamos “menos” do que gostaríamos (e do que o País precisa).
Uma grande quantidade de segmentos passa por dificuldades profundas (como aviação, varejo, parte do “agro”, grande parte do segmento de saúde, e assim por diante), o que tende a atrair a atenção de grupos internacionais e de investidores, mas neste momento, como mencionado acima, talvez poucos estejam de fato pensando em investir fortemente no nosso País.
Quanto ao mercado de capitais (que em alguma medida podemos considerar no contexto das “fusões e aquisições”), ainda é cedo para sabermos se haverá movimentos de “abertura de capital” ou “operações de follow-on”, pois são muitas as variáveis e os pontos que podem impactar em uma ou em outra direção, sendo possível (de toda forma) que justamente a crise que muitos segmentos enfrentam leve a “uniões” de empresas (com valores mobiliários cotados em bolsa de valores).
Uma das estratégias possíveis no mercado é que em determinados segmentos ocorram operações de “M&A” envolvendo “empresas abertas” listadas” (que de forma geral estão “muito baratas”), sendo que também podem ocorrer operações de “recompra de ações”, em função do baixo valor de muitas delas (uma vez que de forma geral as “ações estão baratas”); caso em que é bem provável que ocorram operações de OPAs (ofertas publicas de aquisições de ações), para fechamento de capital ou “apenas” para aumento de participação acionária.
Sejamos cautelosos, mas também otimistas e positivos, especialmente no tocante a boas oportunidades, empresas e negócios inovadores, e organizações que estejam fortes em programas de governança corporativa e “compliance”; além de terem a “casa arrumada”. Bons negócios, cada vez mais seletivos virão (mesmo em um ano desafiador), e quem estiver preparado, tiver experiência, e de fato conseguir aproveitar boas oportunidade terá bastante trabalho.
A “dica” seria: Prepare-se, esteja atento a boas oportunidades e a inovação, e cerque-se de bons times e de equipes (realmente experientes e preparadas) que ajudem a lidar com os desafios, e a realizar bons negócios.
*Leonardo Barém Leite é sócio sênior do escritório “Almeida Advogados” em SP, especialista em Direito Societário e Contratos, Fusões e Aquisições, Governança Corporativa, Sustentabilidade e ESG, “Compliance”, Projetos e Operações Empresariais, Mercado de Capitais e Direito Corporativo Estratégico; também é árbitro, professor, conselheiro, e autor de diversas obras. Presidente da Comissão de Direito Societário, Governança Corporativa e ESG da OAB-SP/Pinheiros.