Data driven: a base para ser IA driven
Gustavo Maganha e Jhonatan Rodrigues*
Escritórios de advocacia enfrentam, cada vez mais, a necessidade de se adaptar às rápidas transformações tecnológicas que permeiam diversos setores. Entre as discussões mais relevantes no cenário jurídico destaca-se a adoção de tecnologias baseadas em Inteligência Artificial (IA), ou seja, ser um Escritório IA Driven, que promete aumentar a eficiência, a assertividade e a agilidade nas tarefas repetitivas.
No entanto há um passo essencial que deve ser dado antes de qualquer escritório de advocacia se tornar IA Driven: transformar-se em uma organização Data Driven. Isso quer dizer que, antes de incorporar a IA em suas rotinas, os escritórios devem priorizar o uso de dados de forma estratégica, fazendo deles parte central de sua cultura e da tomada de decisões. Esse é um movimento essencial, e precisa ser atingido antes de qualquer movimento para a implementação da cultura IA Driven.
Ser Data Driven significa que as decisões são baseadas em dados concretos, e não apenas na intuição ou na experiência anterior, o famoso “eu sei do que estou falando”. Embora a tecnologia de IA dependa de uma série de fatores, ela só pode ser tão eficaz quanto os dados que a alimentam, podendo ser um desastre ou até ineficiente se utilizada com dados “sujos”.
Ao adotar a cultura Data Driven, o processo contínuo de qualificação dos dados torna-se mais importante do que a tomada de decisão utilizando os dados, afinal, a decisão baseada em dados errados, continua errada, mesmo que sua premissa esteja correta. Essa transformação não ocorre apenas com a compra de softwares e ferramentas ou com a criação de um time de dados, mas com a criação de uma cultura organizacional que reconheça o valor dos dados em todos os processos.
O jurídico é uma das áreas com mais concentração de dados e a identificação de padrões de comportamento dos processos é o primeiro passo para a eficiência operacional e a melhoria no desempenho, caminhando para a tomada de decisões mais acertadas e os melhores resultados. Essa base sólida e a familiaridade com o uso estratégico dos dados permitirá a adoção com facilidade do uso de IA, potencializando seus efeitos de maneira exponencial.
Para que a IA funcione adequadamente é necessário que os dados estejam disponíveis, estruturados e devidamente organizados. Isso implica em sistemas robustos de coleta, armazenamento e análise de dados. Se um escritório não possui esses pilares fundamentais, as tentativas de implementação de IA serão custosas, ineficientes e frustradas, colocando a “culpa” na tecnologia por não trazer o resultado esperado.
O processo de transição de um escritório Data Driven para IA Driven tem característica exponencial. No início, a coleta, a organização e o uso dos dados podem parecer desafio árduo. Entretanto, uma vez que os sistemas estejam estabelecidos e funcionando, o potencial de crescimento e melhoria se multiplica rapidamente. Isso ocorre porque a IA é, essencialmente, a extensão das capacidades de análise de dados. Quanto melhor a qualidade e a quantidade dos dados, maior será o impacto positivo da IA nas operações do escritório.
Departamentos jurídicos de grandes empresas já demonstram essa inclinação ao adotar a postura Data Driven, pois estão constantemente alinhados às atualizações digitais das corporações, obrigando os escritórios a se adaptar a essa nova demanda, para que se posicionem dessa forma, tornando-os mais competitivos. Isso resulta em diferencial estratégico no mercado jurídico: quanto mais rápido o escritório se adaptar a essas mudanças, maior será sua capacidade de agregar valor para seus clientes corporativos e, inclusive, mais oportunidade de corrigir a rota e aprender com erros o escritório terá.
Em conclusão, a transformação de um escritório de advocacia em organização Data Driven é um passo fundamental antes de avançar para a adoção de tecnologias de IA. Essa abordagem prepara o terreno, estruturando a organização para que a IA possa ser usada em sua plenitude, maximizando os benefícios que a inovação tecnológica pode trazer. Mais do que uma questão técnica é uma mudança cultural que precisa ser promovida para garantir o sucesso a longo prazo.
*Gustavo Maganha é gestor de tecnologia e inovação e Jhonatan Rodrigues é advogado de Inovação e Inteligência Artificial do PG Advogados.