Como enfrentar a intolerância religiosa no trabalho?
Da redação de LexLegal
A intolerância religiosa, um problema estrutural e de longa data, continua a se manifestar de diversas formas na sociedade brasileira, inclusive no ambiente corporativo. Nos últimos anos, o aumento de denúncias registradas pelo Disque 100, serviço do governo federal, expôs a gravidade e a diversidade dos casos de violência relacionados à crença religiosa. Diante dessa realidade, empresas têm sido pressionadas a adotar medidas concretas para promover a inclusão e mitigar comportamentos discriminatórios.
Embora muitas organizações relutem em abordar questões religiosas por considerarem o tema delicado e complexo, a diversidade de crenças dos colaboradores e do público consumidor torna essa abordagem indispensável.
Para Tamiris Hilário, especialista em Raça e Etnia da Diversitera, ignorar o tema é negligenciar um aspecto essencial das relações humanas. “Vale notar que a intolerância não é uma novidade desses tempos. Na história, diferentes populações foram sistematicamente destruídas em razão de suas características étnicas, e sob esse guarda-chuva estão os elementos de fé. Tudo isso porque não houve aceitação social plena das diferenças, o que resultou em grupos estigmatizados, excluídos, segregados, silenciados e violados de diferentes maneiras”, diz.
Intolerância religiosa no ambiente de trabalho
No contexto corporativo, a intolerância religiosa muitas vezes se manifesta de maneira sutil, por meio de microagressões, como piadas, insinuações ou comentários estereotipados. Exemplos incluem chamar judeus de “pão-duros” ou muçulmanos de “homens-bomba”. Essas atitudes, que podem parecer banais para quem as pratica, têm impactos profundos na saúde mental e no bem-estar dos colaboradores, gerando estresse, insegurança e ansiedade.
Para os especialistas, esses gestos cotidianos podem parecer pequenos, mas criam um ambiente hostil e excludente. Isso demonstra a urgência de ações para mitigar comportamentos discriminatórios e promover a convivência respeitosa no local de trabalho.
Ações práticas para combater a intolerância religiosa no trabalho
1. Estabelecer políticas claras contra a intolerância: As empresas precisam adotar pressupostos éticos inegociáveis em suas políticas organizacionais, com orientações claras para prevenir e tratar comportamentos intolerantes. É fundamental criar canais seguros para que colaboradores possam denunciar casos de discriminação sem medo de represálias.
2. Promover ações inclusivas e educativas: Investir em iniciativas de educação sobre diversidade, cooperação e respeito é uma forma eficaz de combater preconceitos. Isso pode incluir treinamentos, workshops e a capacitação de lideranças para reforçar os valores da empresa.
3. Garantir inclusão nos processos seletivos: Processos seletivos devem ser livres de vieses inconscientes ou constrangimentos relacionados a crenças religiosas. Para isso, é essencial definir critérios claros e objetivos de seleção.
4. Atender às necessidades específicas dos colaboradores: Religiões como o Adventismo, o Islamismo e o Judaísmo possuem práticas específicas, como dias de descanso, horários para orações ou restrições alimentares. Respeitar essas particularidades demonstra sensibilidade e valorização da diversidade.
5. Revisitar datas comemorativas: Muitas empresas celebram apenas feriados cristãos, como Natal e Páscoa. Refletir sobre a inclusão de outras datas religiosas pode promover uma cultura mais representativa e acolhedora.
6. Adequar o código de vestimenta (dress code): Permitir que colaboradores utilizem símbolos religiosos, como hijabs, guias ou outros acessórios, é uma forma de respeitar sua identidade e crença.
7. Promover imersões culturais: A inclusão pode ser promovida por meio de experiências culturais, como palestras com líderes religiosos, visitas a locais de culto ou a integração de elementos culturais de diferentes religiões em celebrações corporativas.
O papel das empresas no enfrentamento à intolerância
Além de ações práticas, é essencial que as empresas criem um ambiente de diálogo aberto, onde os colaboradores se sintam à vontade para expressar suas crenças e convicções sem medo de discriminação.
A gestão da diversidade, quando bem implementada, fortalece a reputação da empresa e gera benefícios tangíveis, como maior engajamento dos colaboradores e melhores resultados financeiros. Nesse sentido, combater a intolerância religiosa é um passo crucial para alinhar os valores organizacionais às expectativas de uma sociedade cada vez mais plural e conectada.