Mundo jurídico: Aparências enganam, resultados falam

Mundo jurídico: Aparências enganam, resultados falam
Inovar nunca foi sobre se vestir de modernidade, e sim sobre entregar resultados/Freepik
Publicado em 03/02/2025 às 7:55

Paulo Silvestre de Oliveira Junior*

A inovação não começa com tecnologia – ela começa com pessoas. No cenário jurídico atual, “inovação” tornou-se uma palavra de ordem. Ela aparece em discursos, eventos e até nos slides de apresentação dos escritórios mais tradicionais.Mas será que estamos confundindo atividade com impacto? Em uma época em que “fazer parecer” virou estratégia, talvez o verdadeiro desafio seja resgatar o propósito por trás da inovação: resolver problemas, criar valor e transformar a realidade.

Inovar nunca foi sobre se vestir de modernidade, e sim sobre entregar resultados. Um escritório que gasta tempo decorando o palco para parecer inovador corre o risco de nunca abrir as cortinas para mostrar algo realmente transformador. Quando o foco está no espetáculo, perde-se o impacto. Esse é o dilema que muitos escritórios enfrentam hoje: o conflito entre forma e essência.

A busca por validação externa — seja em premiações, notícias ou novos cargos — está levando escritórios a um paradoxo. Eles gastam recursos significativos criando a impressão de que estão à frente do mercado, mas, internamente, continuam presos às mesmas práticas de décadas passadas. Isso pode ser mais prejudicial do que a inércia, pois cria uma falsa sensação de progresso.

Por exemplo, imagine um escritório que implementa uma nova ferramenta de inteligência artificial apenas para dizer que “está acompanhando as tendências”. Sem uma integração clara aos processos internos, essa ferramenta se transforma em um item decorativo caro, com pouco ou nenhum impacto real. Ao final do dia, o time ainda está sobrecarregado, os clientes ainda estão insatisfeitos, e os problemas continuam não resolvidos.

Essas decisões não afetam apenas o fluxo de caixa. Elas também geram desconfiança — interna e externamente. Quando os resultados não aparecem, o time perde o entusiasmo, os clientes ficam céticos e a reputação do escritório é prejudicada. O custo de uma “inovação vazia” é maior do que muitos imaginam.

O caminho para escapar dessa armadilha começa com uma mudança de foco. Em vez de perguntar “o que podemos mostrar ao mercado?”, a pergunta deveria ser: “o que podemos resolver?”. Inovação com propósito não começa com tecnologia, mas com clareza. Ela exige que o escritório olhe para dentro e identifique suas prioridades reais.

Aqui estão três perguntas que todo líder deveria fazer antes de qualquer investimento em “inovação”:

• Quais problemas nossos clientes enfrentam e que ainda não conseguimos resolver?

• O que está impedindo nosso time de trabalhar com mais eficiência e satisfação?

• Como mediremos o impacto de qualquer mudança que decidirmos implementar?

Responder a essas questões é mais difícil do que criar um slogan ou exibir um novo cargo. Mas é aí que reside a diferença entre movimentos superficiais e transformações significativas.

Inovar é simplificar, não complicar

Muitas vezes, a verdadeira inovação não está em adotar o mais sofisticado, mas em encontrar o que funciona. Escritórios que lideram mudanças relevantes entendem que tecnologia deve ser uma facilitadora, não um troféu. Um exemplo simples: a digitalização de processos internos pode ter um impacto muito maior do que uma tecnologia de última geração que ninguém sabe operar.

Um escritório que optou por simplificar suas operações ao implementar um sistema básico de organização documental conseguiu reduzir em 40% o tempo gasto em tarefas administrativas. Esse tipo de ganho, embora menos “glamouroso”, traz benefícios reais que tanto o time quanto os clientes conseguem perceber.

No mundo jurídico, onde a confiança é um dos ativos mais valiosos, os resultados são a moeda de troca mais poderosa. Clientes não buscam escritórios que colecionam prêmios ou se promovem como “pioneiros”. Eles buscam parceiros confiáveis que resolvam problemas de forma eficiente e criem valor tangível.

A capacidade de demonstrar impacto concreto é o que separa os líderes do mercado daqueles que apenas seguem tendências. Escritórios que entendem isso investem naquilo que gera transformação sustentável, mesmo que essa transformação não seja visível para todos. A verdadeira modernidade não está no que se ostenta, mas no que se entrega.

Os líderes têm um papel crucial nesse cenário. Mais do que adotar modismos, eles precisam criar uma visão clara do que significa evoluir. Isso não significa seguir fórmulas prontas, mas cultivar uma cultura que valorize a eficiência, a colaboração e o aprendizado constante.

Uma liderança comprometida inspira seu time a ir além do básico. Ao invés de cobrar “grandes ideias”, incentiva pequenas melhorias contínuas. Porque, no final, inovação não é sobre gestos grandiosos — é sobre consistência.O setor jurídico está em um momento crítico. A pressão por parecer relevante nunca foi tão alta, mas isso não deve desviar os escritórios de seu verdadeiro propósito. Não importa quantos eventos ou discursos sejam feitos, a única inovação que realmente importa é aquela que transforma vidas — seja a dos clientes, seja a de quem faz parte do time.

O futuro não pertence aos que gritam mais alto, mas aos que entregam o que realmente importa. A mudança não precisa ser chamativa para ser transformadora. Aparências podem enganar, mas resultados sempre contam a verdade.

Paulo Silvestre de Oliveira Junior é especialista em desenvolvimento estratégico e inovação no setor jurídico, com mais de 14 anos de experiência em liderar projetos transformadores para departamentos jurídicos e escritórios de advocacia. Graduado em Gestão Estratégica pelo IBTA, possui especializações em Business Innovation e um MBA em Segurança da Informação pela FIAP, além de formação em Inovação Corporativa e Estratégia Digital pelo MIT.

É o criador do Generative AI-Centric Law Firm Model, framework pioneiro que orienta a adoção estratégica de IA generativa por escritórios de advocacia e hoje é uma referência global. Atualmente, atua como Diretor de Inovação e Desenvolvimento no Buttini Moraes Advogados e é fundador da Absense Tecnologia e da IT Legal Experts – Innovation & Technology. Autor de “Direito em Transformação – Estratégia e Inovação para Advogados”, Paulo é reconhecido por integrar tecnologia e estratégia para impulsionar a inovação no Direito, inspirando escritórios ao redor do mundo a transformar suas operações.

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