Vai chegar aqui! Nova era Trump deve impactar startups brasileiras
Lucas Mantovani*
A reeleição de Donald Trump como presidente dos Estados Unidos projeta um cenário de mudanças expressivas na dinâmica global. O retorno do político ao cargo, previsto para o dia 20 de janeiro, tende a marcar um período de desregulamentação econômica, protecionismo e incentivo à inovação tecnológica – ações que moldarão o panorama econômico internacional e, consequentemente, o brasileiro.
Há um equívoco comum em achar que decisões políticas do exterior não atravessarão continentes e impactarão outras nações, se não aquelas que sofreram as mudanças. Isso precisa mudar. Empreendedores do Brasil que desejam se posicionar de maneira estratégica devem entender como essas políticas podem refletir nos negócios e se preparar para os desafios e oportunidades que vão surgir.
Trump consolidou uma imagem de defensor do capitalismo pragmático, buscando priorizar a produção interna e a liderança tecnológica dos EUA. Isso pode ser traduzido em incentivos fiscais e desregulamentação para startups e big techs. No entanto, o protecionismo característico de sua administração, exemplificado pela proposta de uma tarifa mínima de 10% sobre todas as importações, coloca o Brasil em uma posição delicada, especialmente nas exportações de commodities e produtos manufaturados para o mercado americano.
Embora barreiras comerciais possam representar um desafio, elas também criam oportunidades para que o país reforce posição como fornecedor alternativo em cadeias globais de suprimento. As tensões entre EUA e China, exacerbadas sob essa nova gestão, podem impulsionar o Brasil a desempenhar um papel importante em setores como o agronegócio e a mineração, desde que o mesmo invista em competitividade e capacidade de atender demandas como essas.
No campo tecnológico, o foco de Trump em áreas como inteligência artificial, 5G e computação quântica é uma chance para startups brasileiras. Investimentos em colaboração e parcerias estratégicas com empresas americanas podem ser facilitados pela política pró-inovação do presidente. Com um preparo para lidar com barreiras comerciais e regulatórias, há perspectivas de sucesso em meio ao furacão.
O recrutamento de talentos é outra brecha disfarçada de desafio. Ainda que a política de restrições imigratórias de Trump tenda a reduzir o fluxo de profissionais qualificados para os Estados Unidos, isso pode criar lacunas no mercado americano, que empresas brasileiras e talentos podem preencher por meio de acordos remotos ou iniciativas de nearshoring.
De qualquer forma, é necessária cautela. O pragmatismo de Trump não elimina um caráter volátil. A nomeação de figuras de mercado, como Elon Musk, para cargos-chave é um reflexo da busca por eficiência e resultados, mas também sugere uma política governamental influenciada por interesses corporativos. Como resultado, incertezas regulatórias e o favorecimento apenas de empresas com alta capacidade de adaptação podem minar o mercado.
O Brasil, nesse cenário, pode adotar uma abordagem de diversificação. Apostar apenas na relação comercial com os EUA é arriscado em função da instabilidade das políticas tarifárias. Organizações brasileiras precisam expandir atuação para outros segmentos, enquanto reforçam presença nos Estados Unidos com diferenciação em qualidade e inovação. A mensagem central é a de preparação e adaptabilidade.
Um ambiente global em transformação exige análise constante das tendências, fortalecimento das cadeias de valor e investimento em inovação tecnológica para se destacar em contextos competitivos. O retorno de Trump ao poder é, acima de tudo, um convite para repensar a forma como as corporações nacionais se posicionam frente aos demais países. Oportunidades surgirão para quem souber antecipar movimentos e reduzir riscos com estratégias bem estruturadas e uma visão de longo prazo.
*Lucas Mantovani é advogado especializado em startups e empresas de tecnologia.