2025: O ano da instabilidade global
José Renato Ferraz da Silveira e Gabriela Martins de Oliveira*
A economista e diretora-executiva do WEF (sigla em inglês para Fórum Econômico Mundial), Saadia Zahidi, enxerga com pessimismo o mundo em 2025: um cenário caracterizado por “maior instabilidade, polarização de narrativas, erosão da confiança e insegurança”.
Zahidi afirma isso a partir de uma pesquisa do Fórum Econômico Mundial que ouviu mais de 900 líderes globais do mundo acadêmico, empresarial, governamental, de organizações internacionais e da sociedade civil. A maior preocupação dessas lideranças são os conflitos armados entre os países, o avanço das mudanças climáticas e as tensões econômicas pelo mundo.
O clima geopolítico no mundo
De acordo com a pesquisa publicada no dia 15 de janeiro, no topo da lista das maiores preocupações com 23% (conflitos armados); em seguida, vieram com 14% (os eventos climáticos extremos); e 8% (os confrontos geoeconômicos). Segundo o documento, o atual clima geopolítico no mundo tem aumentado a expectativa de extensão das crises ao longo de 2025.
E o estudo sinaliza que há uma relação entre as tensões geopolíticas e o risco crescente do confronto geoeconômico principalmente a partir da aplicação de sanções ou tarifas pelas grandes potências. É o cenário que se desenha para 2025.
O impacto da desinformação e dos riscos ambientais no cenário global
No que se refere às questões ambientais, o risco está associado ao uso contínuo de combustíveis fósseis (petróleo, carvão e gás) pelos países e eventos climáticos extremos cada vez mais evidentes. “Ondas de calor em todas as partes da Ásia; inundações no Brasil, na Indonésia e em partes da Europa; incêndios florestais no Canadá; e furacões Helene e Milton nos Estados Unidos são apenas alguns exemplos recentes de tais eventos”, diz o documento.
Falta de conhecimento e desinformação
Sob essa perspectiva, a interação entre os riscos ambientais e a disseminação de desinformação está moldando de maneira alarmante o futuro global. Esses dois fatores não apenas agravam crises preexistentes, mas também comprometem a capacidade de formular respostas eficazes para enfrentá-las.
A proliferação de conteúdo falso ou enganoso está complicando o ambiente geopolítico, diz o documento. “Segundo o relatório, essa divulgação de conteúdo falso ou enganoso pode ser um mecanismo usado para influenciar as intenções de eleitores, pode semear dúvidas entre o público geral sobre o que está acontecendo em zonas de conflito e pode até mesmo ser usada para manchar a imagem de produtos ou serviços de outros países”.
Como também, o relatório do Fórum Econômico Mundial (WEF Global Risks 2024) ressalta que eventos climáticos extremos, como inundações devastadoras, incêndios florestais e ondas de calor sem precedentes, estão se tornando mais frequentes e intensos. Esses eventos, além de gerarem impactos diretos na vida das pessoas, trazem consequências econômicas devastadoras e ameaçam a estabilidade alimentar e hídrica em diversas regiões.
Dessa maneira, o uso contínuo de combustíveis fósseis permanece um dos principais vetores do risco ambiental. Apesar dos avanços em energias renováveis, a dependência global de petróleo, carvão e gás ainda domina o cenário energético. Contudo, o combate a esses desafios ambientais enfrenta uma barreira crescente: a desinformação.
O cenário político e econômico global é frequentemente distorcido por informações falsas ou enganosas, que têm implicações profundas na maneira como as questões ambientais são abordadas. “O relatório ainda indica que a falta de conhecimento e a desinformação sobre tópicos importantes da política e da economia são os principais pontos de preocupação no curto prazo”.
Campanhas de desinformação
Campanhas de desinformação podem subestimar a gravidade das mudanças climáticas, desacreditar evidências científicas e desviar o foco de soluções sustentáveis. Em muitos casos, governos e empresas têm enfrentado dificuldades em implementar políticas eficazes devido à falta de consenso público ou à resistência gerada por informações falsas.
Pessimismo para a próxima década
O relatório do WEF indica, ainda, que os entrevistados também estão mais pessimistas em relação aos próximos 10 anos, sinalizando um caminho desafiador até 2035. Segundo a pesquisa, 62% dos respondentes têm uma perspectiva “turbulenta” sobre o período”.
Portanto, para mitigar esses desafios, é essencial investir em educação e conscientização ambiental em larga escala. Como projetos que combinem ciência acessível, comunicação clara e envolvimento comunitário podem desarmar narrativas enganosas e preparar a sociedade para decisões mais informadas.
Ao mesmo tempo, regulamentações mais rígidas sobre a disseminação de informações falsas e maior transparência nas plataformas digitais são fundamentais para restaurar a confiança no debate público.
O futuro exige, mais do que nunca, um equilíbrio entre cautela e ação. Se o pessimismo pode inspirar medidas preventivas, ele deve ser usado para impulsionar respostas coordenadas aos riscos ambientais e ao impacto corrosivo da desinformação.
Essa abordagem integrativa é essencial para que o mundo possa enfrentar os desafios da próxima década com mais resiliência e menos turbulência.
José Renato Ferraz da Silveira é Professor Associado IV do Departamento de Economia e Relações Internacionais da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) desde 2009. Doutorado em Ciências Sociais (Política) pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) (2009). Mestrado em Ciências Sociais (Política) pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) (2005). Bacharel em Relações Internacionais pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) (2001). Gabriela Martins de Oliveira é graduanda do 5º semestre em Relações Internacionais na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Participa do Grupo de Teoria, Arte e Política, integra como extensionista o GIDH – Gênero, Interseccionalidade e Direitos Humanos, e atua como co-coordenadora do Coletivo Manas – RI, voltado para debates sobre os papéis de gênero nas Relações Internacionais da UFSM.